16 fevereiro 2009

A ASSIMILAÇÃO DE FORASTEIROS ENTRE A ARISTOCRACIA BRITÂNICA

Chariots of Fire é o título de um filme de 1981, com uma inesquecível música de Vangelis, que conta de forma romanceada a história de dois antigos campeões olímpicos britânicos de 1924, o escocês Eric Lidell e o inglês Harold Abrahams (abaixo, o original). Porque se trata de um filme bem intencionado, a questão dos preconceitos quanto à origem judaica de Abrahams – o pai imigrara da Lituânia – é apenas aflorada numa pequena cena de um diálogo entre os professores do colégio de Cambridge que ele frequentava, enquanto a discriminação que ele pudesse sentir por causa das suas origens é explicada em parte por uma questão de susceptibilidade excessiva de Abrahams.
Harold Abrahams (1898-1978), ainda que pertencente ao círculo restrito dos que podiam aceder a estudar em Oxbridge (*), era ainda um exemplar muito cru das famílias de imigrantes bem sucedidas, antes do início dos processos de assimilação. A forma preferencial pela qual a assimilação funcionava naquela época era o casamento. Isso pode observar-se no caso de Edwina Ashley (abaixo), muito mais conhecida pelo seu nome de casada de Edwina Mountbatten (1901-1960). Apesar da ascendência de inúmeros baronetes ingleses do lado paterno, que a tornavam socialmente aceitável, o que fazia dela uma herdeira diferente era a sua ascendência do lado materno…
Edwina era uma das duas netas herdeiras de Ernest Cassel, um banqueiro judeu de origem alemã de sucesso que, quando faleceu em 1921, lhe legou uma fortuna de 2,9 milhões de libras e uma renda anual de 60.000 libras. Edwina veio a casar com Louis Mountbatten (1900-1979) no ano seguinte. Para comparação, o ordenado anual deste último, como oficial subalterno da Royal Navy, era então de 610 libras… Mas talvez a melhor explicação para a receptividade com que a aristocracia britânica acolhia os forasteiros, mesmo ricos, esteja contida numa história contada por Nubar Gulbenkian (1896-1972), o excêntrico filho do multimilionário arménio Calouste Gulbenkian.
Nubar Gulbenkian (acima) fizera a maior parte dos seus estudos em Inglaterra (Harrow e Cambridge) e considerava-se em tudo, menos na nacionalidade, um britânico. Contudo, certo dia, escreveu ele nas suas Memórias, um político inglês (Edward Keeling) sugeriu-lhe que seguisse uma carreira política e se naturalizasse:
– Gulbenkian, você devia entrar para a política.
– Mas eu não sou inglês.
– Não faz mal. Nós tratamos da naturalização. Mas terá de mudar de nome. O melhor é primeiro chamar-se Gullybanks e depois Gumbley.
– Mas por que é que seria preciso mudar o nome duas vezes? Por que não mudar logo directamente para Gumbley?
– Porque, como há-de descobrir, as pessoas irão querer saber qual era o seu nome antes de adoptar o Gumbley. Se disser que era Gullybanks, aí as pessoas compreenderão. Mas se disser que era Gulbenkian, então perceber-se-á que é estrangeiro…

Nubar Gulbenkian possuía a nacionalidade iraniana e mais tarde, solicitou e readquiriu também a nacionalidade turca (que era a sua de origem). Mas nunca tomou qualquer iniciativa para obter a nacionalidade britânica…

(*) – Expressão frequentemente empregue para referir em conjunto as selectas universidades rivais de Oxford e de Cambridge.

2 comentários:

  1. Pela sua excentricidade (como guardar um caixão no quarto), Nubar enquadrava-se perfeitamente na aristocracia britânica.
    Não esquecer também um judeu anterior ao Séc.XX de peso e grande relevância política, Benjamin Disraeli.

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  2. Tenho alguma curiosidade em saber quais os dois nomes que Keeling teria sugerido a Disraeli...

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